Entrevista ao site www.slbenfica.pt
Pode ter apenas 21 anos de idade mas já é considerado por muitos o melhor jogador do mundo de futsal. Um ilusionista com a bola, guerreiro sem ela e rapaz humilde fora do campo, Ricardinho é a pura magia em movimento e simplicidade enquanto pessoa.
Numa animada e franca conversa com o Site Oficial do Benfica, o nº10 abordou vários temas da actualidade benfiquista e da selecção, bem como das suas perspectivas em termos pessoais. Eis a “Revelação do Ano” do Benfica em entrevista.
De génio preterido...
P – O talento que lhe é hoje reconhecido foi trabalhado ou desde pequeno que já era facilmente notado?
R – Desde pequenino que descobri esse talento. Toda a gente me dizia para continuar, pois era notório o jeito que tinha para o futebol.
P – Daí à opção pelo desporto foi um passo...
R – Sim, embora apenas mais tarde é que pude ter a certeza que me deveria dedicar ao desporto. Aos poucos, o futsal começou a ser levado mais a sério e com o passar dos anos fui acreditando que tinha de aproveitar o meu talento e investir nele.
P – Nessa fase de decisões algum treinador terá sido marcante?
R – Eu costumo dizer que todos os treinadores marcam a carreira de um jogador, mas, sinceramente, talvez tenha sido a treinadora Carolina Silva aquela que me marcou em primeiro lugar. Eu tinha deixado o futebol de 11 porque um clube, que até é rival do Benfica, me fechou as portas devido à minha baixa estatura. Diziam que eu era muito franzino e baixinho. Acabou por ser ela quem me acolheu no plantel de um clube de bairro e acabou por me meter no caminho correcto no futsal.
... ao reconhecimento no Benfica
P – O Ricardo não cresceu muitos centímetros, até porque ainda recentemente brincou com isso mesmo quando foi receber ao palco do Casino Estoril o prémio de “Revelação do Ano” na gala comemorativa dos 103 anos do Benfica, mas o que é certo é que tal eleição foi a prova do quanto se tornou um enorme desportista. Que significado teve esse reconhecimento para si?
R – Foi o prémio mais honroso que já recebi até hoje, não só por acontecer nesta fase em que estou em grande forma, mas acima de tudo por sentir que cada vez mais faço parte deste grande clube. Aliás, o Benfica é mais que um clube, é uma grande família. Saber que tantos benfiquistas me têm em conta e me dão valor é muito bom. Senti-me muito honrado por tantos terem votado em mim, apesar de estarem nomeados jogadores como o Cláudio Pedroso e o Nélson que, além de todo o seu valor, tem maior mediatismo também por jogar futebol de 11.
P – De jogador tecnicista a craque polivalente foi um passo. Qual o segredo?
R – Acho que não existem segredos. Simplesmente, tenho objectivos na vida. Todos os dias traço patamares que tenho de atingir, não só ao nível de melhorar qualidades, como também relativamente a debelar os pequenos defeitos. Acho que passa por uma questão de consciência e de ambição e eu tenho ambas. Quero sempre mais e, com a ajuda dos treinadores, estou a consegui-lo.
Campeões sem estrelas
P – Acredita na dobradinha?
R – Estou muito convicto que poderemos obtê-la. Temos treinado muito para que tal aconteça, mas todos nós sabemos o quão imprevisíveis são as finais. Quem nos dera darmos tal alegria aos benfiquistas e a nós mesmos.
P – O facto de este ser um plantel composto por grandes estrelas do futsal nacional também ajuda.
R – Isso das estrelas é subjectivo. O Real Madrid era “cinco estrelas” e viu-se como acabou. No nosso plantel não existem estrelas, mas sim jogadores de qualidade que têm o intuito de serem campeões seja de que forma for: seja no banco, na bancada ou no campo. Julgo que esse é o espírito que ajuda a criar campeões.
P – Quais os jogadores com que mais se identifica no futsal?
R – Julgo que o André Lima, o Pedro Costa e o Zé Maria são referências fortes. O André por ser o nosso capitão e por tudo o que representa para a modalidade em Portugal, o Pedro pela qualidade humana e técnica e o Zé Maria por ser um amigo e um excelente jogador. No entanto, identifico-me muito com o Arnaldo, que jogou no Benfica e que tem características idênticas às minhas dentro de campo.
A camisola de Falcão...
P – E em termos internacionais?
R – É o Falcão, sem dúvida. E estou ansioso por vê-lo de perto em Portimão, no torneio internacional da próxima semana. Quem me dera cumprir um sonho de pequeno e jogar contra ele, bem como receber a camisola dele. Não é por me ter tornado profissional que esqueci esse sonho. Mesmo que eu fosse o melhor do mundo, seria um objectivo e um sonho cumprido ficar com a camisola dele.
P – Mais uma marca da sua humildade. Será essa uma das suas armas?
R – Sei que sou humilde, não só pelo meu crescimento e pela forma como os meus pais me formaram, como também por, acima de tudo, ter nascido humilde. Não é novidade para mim que o digam, mas sinto-me contente por ser reconhecido também por isso, pois tenho a perfeita noção que até em termos de carreira essa é uma característica sagrada.
P – Enquanto exemplo, que conselhos deixa aos mais jovens que sonham um dia tornarem-se jogadores de sucesso?
R – Acima de tudo, nunca trocarem o futebol pela escola. Eu infelizmente não consegui terminar a escola e gostaria que tal tivesse acontecido. Mas também deixo o conselho de lutarem pelo sonho e que, claro, saibam ouvir, pois só assim conseguirão chegar longe.
Texto: Ricardo Soares
Fonte: www.slbenfica.pt
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