“Vamos tentar igualar os feitos da época passada”, Adil Amarante
Entrevista de Adil Amarante ao site CAMISOLA10.COM.
No próximo dia 22, o Benfica defronta o Sporting naquele que será o primeiro derbi desta temporada. Adil Amarante quer cumprir com os objectivos e vencer mas afirma que, neste caso, o favoritismo está repartido.
O treinador de futsal do Benfica falou ainda da falta de ritmo competitivo no campeonato do português que tem vindo a condicionar as equipas portuguesas e a selecção nacional quando competem a nível europeu.
O Benfica vai jogar com o Sporting, primeiro para o campeonato e depois na 2.ª eliminatória da Taça de Portugal. Que antevisão pode fazer destes derbis?
Os derbis, tradicionalmente, são jogos em que o favoritismo está muito repartido e jogar em casa ou fora não tem muita interferência. Nós já conseguimos vencer na casa do Sporting e eles também já ganharam na nossa casa. Desses jogos, o primeiro marca uma partida oficial desta temporada e o segundo corresponde a um dos objectivos da época, a Taça de Portugal, em que as duas equipas pretendem chegar à final four. São jogos importantes dentro do contexto de objectivos que temos e pretendemos manter a nossa senda vitoriosa.
Considera que a equipa está mais forte ou mais fraca, em relação à época passada?
O que nos vai dizer se temos uma equipa mais forte ou mais fraca é a competição. A equipa do ano passado ganhou tudo, a nível interno, e foi a mais forte que o Benfica teve nos últimos anos. Este ano vamos tentar, no mínimo, igualar os feitos da época passada para podermos dizer que esta equipa é tão forte quanto a do ano passado.
Acha que este mês de paragem, devido ao Europeu, foi prejudicial para a equipa?
Penso que isso é relativo. Pode ser prejudicial para alguns, porque estiveram inactivos a nível de jogos oficiais e para outros em função de algum stress competitivo dos jogos em que estiveram inseridos no Europeu e que exigiam um alto nível de concentração. Mas já realizamos dois jogos depois disso e o plantel tem dado uma resposta positiva. Penso que estamos no bom caminho para conquistar os nossos objectivos finais: passar estas eliminatórias da Taça e ganhar o Campeonato.
“O que falta na minha carreira, a nível de Benfica, é conquistar um título europeu, porque a nível interno já ganhámos tudo o que havia para ganhar.”
Acha que a lesão de André Lima tem tido muita influência, não só no rendimento da equipa, mas também a nível do balneário?
O André, pela história que tem dentro do clube e por ser o capitão, tem uma importância muito grande para o plantel. É um jogador que sempre esteve presente, apesar de não poder trabalhar integrado com a equipa. A sua presença ajuda-nos muito no desenrolar dos trabalhos. Esperamos agora poder voltar a contar com ele, a nível de campo, porque é sempre uma opção muito válida. A previsão do seu regresso é em Fevereiro, mas pode ser que recupere antes.
Quais são as suas principais características como treinador?
Penso que sou um treinador que gosta muito de fazer uma abordagem táctica do jogo, de trabalhar os detalhes, de passar para os jogadores várias situações que podemos utilizar no terreno e obter deles respostas positivas. Creio que o segredo do futsal está justamente aí, em estudar, evoluir no conhecimento do jogo.
O que foi preciso para conquistar as vitórias da época passada, apesar de, durante os jogos, estar a orientar a equipa na bancada, devido a uma suspensão?
A vantagem do meu trabalho é passar para os jogadores aquilo que pretendo durante os jogos. Já vamos com estratégias determinadas e os jogadores sabem o que têm de fazer. Também temos pessoas muito competentes na comissão técnica, que passavam a mensagem certa para os jogadores.
O seu futuro passa por continuar no Benfica? O que é que ainda lhe falta conquistar neste clube?
Andamos sempre a tentar conquistar algum título a nível europeu, mas as dificuldades inerentes a esse tipo de competição fazem com que quando chegamos às fases interessantes, acabamos por perder sempre pelos detalhes. O que falta na minha carreira, a nível de Benfica, é conquistar um título europeu, porque a nível interno já ganhámos tudo o que havia para ganhar.
“Falta-nos um campeonato nacional mais competitivo, exigente e intenso.”
Esta época o Benfica tinha expectativas de ganhar a UEFA Cup e não passou a fase de grupos. A que se deveu esta fraca exibição? O que falhou?
Nós ficámos inseridos num grupo que tinha a Itália, actual campeã europeia, e o Dínamo de Moscovo, que é uma equipa muito forte. Sermos eliminados numa fase de grupos por este tipo de equipas não me leva a crer que o Benfica tenha tido uma participação assim tão fraca.
Falta-nos um campeonato nacional mais competitivo, exigente e intenso. São esses detalhes que faltam para que uma equipa portuguesa, ou mesmo a selecção nacional, consiga alcançar um feito maior que passa por vencer uma dessas competições.
O que é que acha que faz falta em Portugal para que o futsal consiga atingir esse nível competitivo europeu?
São muitos factores a nível de organização, da formação de novos jogadores, da experiência dos jogadores a nível internacional, da arbitragem. Todos estes factores conjugados interferem directamente no trabalho dos clubes e isso reflecte-se no trabalho da selecção. Como não temos um campeonato competitivo, os jogadores não têm esse ritmo competitivo quando estão ao serviço da selecção, e isso nota-se, principalmente, quando enfrentam grandes selecções.
Como é que viu a participação portuguesa no Campeonato da Europa? O que é que acha que falhou nesta equipa?
A participação foi bastante positiva, pelos resultados que conseguiram, mas isso só prova que o que falha são pequenos detalhes, como no jogo da meia-final em que tinham uma vantagem de dois golos a quatro minutos de acabar o encontro e falharam nos detalhes do aspecto defensivo. É preciso melhorar detalhes do ponto de vista da concentração e também o nível competitivo em que os jogadores estão inseridos.
“É preciso melhorar detalhes do ponto de vista da concentração e também o nível competitivo em que os jogadores estão inseridos.”
Quais as principais diferenças entre o campeonato brasileiro e o português? O que é que poderia ser importado por Portugal?
Uma das principais diferenças é um princípio básico, a formação. É nesta fase que surgem os jogadores que vão actuar nas equipas principais e o Brasil tem um trabalho diferenciado nesse aspecto. Começam a trabalhar de uma forma específica já com cinco ou seis anos, com profissionais capacitados para isso, coisa que em Portugal não acontece.
E depois é o nível competitivo. No Brasil todas as equipas têm uma palavra a dizer na competição e nos jogos em casas têm sempre a obrigação de vencer. São jogos com um resultado incerto, que faz aumentar o nível competitivo, e esse é um dos grandes factores que acontece no Brasil e também em Espanha. Esses factores interferem directamente com o engrandecimento ou não de um desporto num país.
Sente que o futsal está a ter mais reconhecimento devido às transmissões televisivas?
Nos últimos anos, o futsal tem vindo a crescer muito, tanto a nível do desporto escolar, como a nível de representatividade do país. Em número de atletas inscritos é a segunda modalidade do país.
O facto de a televisão divulgar os jogos em canal aberto faz com que essa divulgação seja maior e isso faz também com que a modalidade cresça. Mas só isso não basta, temos de ir aos últimos detalhes para tornar esta modalidade vencedora.
O mediatismo da modalidade está a crescer e, inclusive, foi lançado o primeiro livro de futsal por um jogador do seu plantel. Pensa que este mediatismo pode ser prejudicial?
Penso que não. O lançamento desse livro faz com que outras pessoas tenham acesso a algumas situações que foram abordadas, tais como o aspecto técnico e táctico, as regras do jogo. Isso traz mediatismo ao futsal, mas o mediatismo maior chega através das transmissões televisivas em canal aberto, onde muitas pessoas, que não tinham conhecimento do que era o futsal têm oportunidade de ver e começar a compreender o que é este desporto.
Entrevista de Andreia Palmeirim
Fonte: Camisola10
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