Durante muitos anos foi uma bandeira da nossa modalidade, é o jogador mais internacional de sempre, o que mais golos marcou na selecção, no Benfica e agora aos 37 anos passa a ser o treinador principal do clube da luz. No dia em que foi anunciada esta decisão, André Lima aceitou dar a sua primeira entrevista ao FutsalPortugal, na qual fala numa carreira de jogador que agora termina e perspectiva o futuro enquanto treinador. Sem o menor receio de admitir que a experiência como treinador é inexistente, André fala em coragem para assumir este desafio, numa oportunidade que considera única.
Acaba agora a carreira como jogador, falemos um pouco neste percurso de muitos anos e com muitos títulos. Qual o balanço?
É um balanço muito positivo, tenho naturalmente de agradecer aos muitos jogadores com quem tive a felicidade de jogar. Dos anos que mais gostei foi o primeiro em que estive no Benfica, pela novidade e pelo grupo de trabalho que tínhamos, depois foi estar sempre envolvido num grupo de jogadores de grande qualidade até este final. Confesso que sair campeão era um dos meus objectivos.
Também a nível da selecção foi uma carreira cheia de sucesso, fica apenas a tristeza de não poder ter estado presente no europeu?
Claro que fiquei muito triste, era uma grande competição no nosso país e provavelmente teria sido ai a minha despedida. Mas faz parte da carreira de um jogador de futsal, eu não me posso queixar muito de lesões, pois felizmente nunca tinha tido nenhuma grave. estive em todos os europeus e mundiais em que a selecção participou e por isso não me posso queixar. Não vou fazer parte dos eleitos para o próximo mundial, mas vou estar com eles a 100%.
Fala-nos um pouco desta ponta final da carreira?
No final do jogo contra o Belenenses e como disse o meu amigo Nélito, no meio de tanta gente senti-me sozinho. Por ser o último jogo havia uma mistura de sentimentos e agora olhando para trás sinto que foi ai que terminou a minha carreira como jogador.
Depois disso ainda jogas-te mais dois torneios com o Benfica onde foste o melhor marcador. Foi o libertar da tensão e aproveitar os últimos momentos?
Sim, senti-me muito confortável nesses torneios. No entanto preciso de dizer que os meus companheiros foram muito importantes para que eu tivesse essa despedida. Esforçaram-se para que os jogos me corressem bem e fico agradecido por isso.
Nesta deslocação do FutsalPortugal aos Açores tivemos a oportunidade de ver que o espírito de grupo destes jogadores do Benfica é de facto invulgar. Tem sido esse o segredo? É isso que vais tentar aproveitar no teu primeiro ano como treinador?
Não vou tentar aproveitar, vou tentar manter-lo para que esse espírito nunca acabe nesta secção de futsal. Mesmo em brincadeiras, dormindo menos do que aquilo que devíamos, conseguimos estar sempre unidos. Quando as coisas estavam a correr menos bem, unimos-nos e lutamos até à exaustão para vencer mais um jogo.
Falemos um pouco sobre a tua experiência como treinador. Não existe correcto?
Sim, não existe.
Não sentes receio daquilo que vais enfrentar? como te sentes agora?
Sinto uma grande motivação e muita coragem. Cada dia que passa sinto-me mais confiante, no início quando me foi proposto este desafio e falei com as pessoas que me são próximas disseram-me que era um risco treinar os meus ex-companheiros e um clube como o Benfica, mas à medida que o tempo passava eu sentia que esta era a minha oportunidade e que não iria haver uma oportunidade igual a esta.
Mas achas que a experiência que acumulas-te enquanto jogador, é suficiente para colmatar o que ainda não aprendes-te como treinador?
Fui treinado pelos melhores portugueses, estive em Espanha, estive em grandes competições europeias e joguei contra os melhores, Acredito que isso me vai ajudar nesta parte inicial, como também me vai ajudar a forma como conheço o balneário e como ele me conhece. Sei de todos os defeitos e virtudes de todos os jogadores, assim como eles sabem os meus.
Vou continuar a ser a mesma pessoa e eles também. As únicas diferenças são o eu ter de deixar de pensar como um jogador e passar a pensar como treinador e eles deixarem de me ver como capitão e jogador e passarem a ver como treinador. Sei que eles antes de serem grandes jogadores, são grandes homens e pessoas muito inteligentes. Aliás só um grupo de homens muito inteligentes consegue ser campeão como fomos este ano.
O facto de a equipa técnica que vais comandar ser composta por elementos que já cá estavam também vai ser importante?
Sim, são pessoas que me conhecem muito bem. Estamos a falar do Nélito com quem joguei e de quem sou amigo há muitos anos e o Pedro Henriques também.
No final do jogo com o Belenenses o FutsalPortugal falou com Fernando Tavares que nos disse que este plantel era para manter por completo. Estás em condições de afirmar que ninguém irá sair?
Não posso afirmar isso. Estou a entrar agora, ainda há alguns ajustes a fazer e ainda tenho que falar com a direcção sobre isso. Num clube como o Benfica pode haver sempre uma saída ou uma entrada, é normal que isso aconteça.
Os objectivos só podem ser... A vitória.
Durante estes últimos anos tem-se falado muito na UEFA CUP
É um sonho, é um sonho que tinha como jogador e que vou manter.
O que tem falhado nestes últimos anos?
Os outros têm sido melhores. Temos que continuar a evoluir, já estivemos muito mais atrás, temos de continuar a trabalhar e se conseguirmos chegar à final four lutar-mos de igual para igual com os melhores da Europa.
Nesta competição estão equipas que têm os melhores jogadores do mundo e nós queremos estar nesse lote. Posso dizer que um dos erros de algumas pessoas que olham para esta equipa, é não olharem como deveriam fazer. Nós somos das melhores equipas do mundo, tanto o Benfica, como a selecção, o próprio Sporting e as outras equipas de topo portuguesas, já são das melhores equipas do mundo. Não é qualquer equipa que nos ganha, Há duas ou três em Espanha, outras tantas no Brasil e mais uma ou duas russas. Estamos entre as 10 melhores do mundo e por isso temos de pensar alto e porque não sermos campeões da Europa.
Para terminar uma análise interna, lembro-me de umas declarações que fizeram correr muita tinta em que afirmavas que este Benfica iria ser campeão durante muitos anos. Agora como treinador acreditas que estas vitórias se irão manter?
É esse o meu objectivo. Quando disse isso muita gente falou em arrogância, eu na minha carreira sempre pus objectivos e se eu disser aqui que quero ser campeão com esta equipa durante 20 anos acho que não tem mal nenhum e não estou a faltar ao respeito a ninguém. É um objectivo que coloco para a minha equipa e se disser que quero ser campeão para o ano é o mesmo que dizer que quero ser durante 10 anos.
Achas que o futsal português está a ficar mais competitivo, falo por exemplo da época que o Belenenses fez este ano.
Está, não sei se os nossos rivais vão ser o Belenenses, o Sporting ou qualquer outro. O que eu quero é que esteja lá o Benfica, este ano com as alterações que se verificaram, vai ser ainda mais importante ficar em primeiro lugar na fase regular e é por isso que vamos lutar.
Quantos dias de férias vais ter?
Vou ter poucos, mas é por uma boa causa. Vamos tentar preparar a equipa bem para a Super-taça e para a UEFA CUP.
O FutsalPortugal agradece ao André Lima e ao Benfica a disponibilidade para esta primeira grande entrevista enquanto treinador.
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