Entrevista de Adil Amarante ao site Futsal Global.

Há vários anos em Portugal, passando por clubes como a Académica, o Colégio Pereira da Costa e o Instituto D. João V, Adil Amarante, é aos 42 anos, um dos pilares do projecto do futsal do Benfica, onde já conquistou dois Campeonatos, duas Taças e duas Supertaças nacionais.

Em entrevista ao Futsal Global, o técnico brasileiro, perspectiva um final de época bastante competitivo, não escondendo que o grande objectivo da sua equipa passa por "trabalhar bem para revalidar o título".

Futsal Global (FG): O Benfica ocupa neste momento a segunda posição no Campeonato, numa altura em que se aproxima o play-off, onde se irá decidir tudo. A equipa está preparada para revalidar o título?
Adil Amarante (AA): Nós trabalhamos com o intuito de melhorar a qualidade desse trabalho e uma das coisas que nós queremos é justamente isso, revalidar o título. Temos que trabalhar com esses intentos e vamos dar sequência ao que tínhamos planeado para quando chegarmos a essa fase do play-off, estarmos com a equipa na condição de dar a resposta que queremos, que passa por jogar e trabalhar bem para revalidar o título.

FG: O facto de neste momento o Benfica estar só a disputar uma competição que é o Campeonato Nacional, pode ser uma vantagem?
AA: O que temos que analisar até ao momento, é que esta equipa, e nomeadamente alguns jogadores, já vão com muitos jogos em cima das pernas, porque nós jogámos duas fases da UEFA Cup, a selecção fez seis jogos amigáveis, jogou um apuramento para o Mundial recentemente, jogou um Europeu e tem mais dois jogos para fazer. A partir do momento em que nós tivermos os jogadores só à nossa disposição para trabalharmos única e exclusivamente nos nossos propósitos, vamos ter condições de trabalhar melhor e conseguirmos um rendimento maior desses jogadores, até porque vamos conseguir dar um pouco mais de descanso nesta fase final do Campeonato que se aproxima, para trabalhar com mais qualidade, mais intensidade e menos volume, e conseguirmos, aí sim, pensar exclusivamente nesta fase final do Campeonato. Mas até meados de Abril ainda temos algumas competições para jogar, como a Taça Ibérica com o ElPozo e alguns compromissos da selecção. Só a partir da segunda quinzena de Abril, é que vamos estar única e exclusivamente voltados para esta fase final do Campeonato.

FG: Acha que a equipa com esta sobrecarga poderá acusar algum desgaste na fase do play-off?
AA: A equipa pode acusar algum desgaste neste momento. Agora, quando chegarmos ao play-off, já vamos estar com a equipa totalmente recuperada e mentalizada. A única coisa que nos temos que preocupar, é com o aproveitamento dela na fase final do Campeonato.

FG: Para si quem são os principais adversários na luta pelo título?
AA: Quem chegar entre os oito é candidato.

"Temos que ser mais consistentes"

FG: Um dos objectivos do Benfica para esta época era a conquista da UEFA Futsal Cup. Foi difícil para a equipa encarar a eliminação na prova?
AA: Penso que não, porque temos consciência que trabalhámos e tentámos dar o nosso melhor. Perdemos com equipas que foram superiores naquela fase da competição, mas temos que ter a força necessária para trabalhar da melhor maneira possível e conseguir numa nova oportunidade de estar lá, melhorar cada vez mais a nossa prestação, porque se analisarmos, fomos eliminados pela equipa que é a actual campeã europeia, com um plantel que é muito interessante e trabalha muito bem, então, só temos que saber aprender com isso. Neste tipo de competição temos que ser mais consistentes na forma de jogar da equipa. Uma das coisas que tanto falamos e acho que tem acontecido, é a melhoria da competitividade do Campeonato Nacional. Esta época, já conseguimos melhorar esse índice competitivo, porque há mais equipas a discutir os resultados em todos os jogos e, eu acho que isso vem aumentar a qualidade do trabalho, que é uma coisa muito importante, para que, tanto os clubes portugueses como a selecção, quando disputarem aqueles jogos com maior grau de dificuldade, estejam mais preparados. Muitas vezes o que falta, é justamente essa experiência competitiva, esse tipo de jogos, em todos os finais de semana, para encurtar essa distância do ponto de vista competitivo.

"Dar mais versatilidade à equipa"

FG: A contratação de César Paulo e os regressos do André Lima e Bebé, após longas lesões, eram os reforços que precisava? O Benfica está mais forte agora?
AA: A questão do estar ou não estar mais forte, só vamos ter a certeza, a partir do momento em que todos esses jogadores adquirirem rotina de competição e derem uma resposta positiva, ou seja, a equipa toda der uma resposta positiva. É lógico que são jogadores que em épocas anteriores foram fundamentais na manobra da equipa, trabalharam muito bem, foram muito importantes dentro daquilo que pretendíamos no nosso modelo de jogo, e eu espero, que eles consigam adquirir novamente essa capacidade competitiva, esse ritmo competitivo, mas isso aparece com os jogos. Eu não posso exigir que eles ao voltarem de uma paragem, após as lesões sérias que tiveram, dêem já uma resposta imediata. Temos que dar tempo para que esses jogadores trabalhem e cresçam com a equipa.

FG: E que mais-valia pode trazer o César Paulo para a equipa?
AA: O César Paulo pelas características que apresenta, veio dar uma opção à equipa para que esta possa mudar a forma de jogar, podendo assim alterar o nosso modelo de jogo. É um jogador que já fez dois jogos e nesses dois jogos pôde dar a sua contribuição. Conseguimos inclusivamente, no último jogo contra a UTAD, marcar dois golos através de trabalho de pivot. São estas coisas que fazem com possamos ter mais uma opção e poder alterar um pouco a forma de jogar da equipa, que era uma das situações sobre a qual nos ressentíamos um pouco, porque nós trabalhávamos um modelo de jogo muito predefinido, baseado no sistema 4x0, agora podemos alterar para o sistema 3x1 e dar mais versatilidade à equipa.

"Não teve significado nenhum (castigo)"

FG: No próximo domingo frente ao Alpendorada estará de volta ao banco de suplentes, depois de treze meses sem o poder fazer nas competições internas devido ao castigo federativo que foi alvo. Como é que está a encarar esse regresso ao banco de suplentes?
AA: Para mim isso não significa nada. Não interferiu de forma nenhuma no meu trabalho e até nem sei se volto para o banco. De fora podemos ter uma visão e uma forma de pensar o jogo diferente, porque quando o treinador está no banco, está com algum tipo de preocupação e sem tacto para a análise de determinadas coisas que muitas vezes passam despercebidas. Do lado de fora conseguimos ter uma visão melhor daquilo que pretendemos.
Nós temos uma comissão técnica com muita qualidade, que nessa fase toda não teve deficiência nenhuma, e a prova disso foi que durante esse período, num ano, ganhámos todas as competições que tínhamos para ganhar no país, e com o Adil fora do banco. Então, o facto de eu, estar ou não no banco, é irrisório. Não interfere em nada no meu trabalho e não suscita nenhum motivo de preocupação para a equipa.

FG: Segundo as suas palavras, está então a ponderar continuar a orientar alguns jogos de fora.
AA: Vamos ver com calma, vamos ponderar. Onde eu for mais necessário, é onde eu estarei, mas não quer dizer que esteja no banco ou esteja na bancada, pode ser que num jogo esteja, outro não, é muito relativo. Vamos pensar. O que for melhor para a equipa e melhor para o nosso trabalho, é o que será feito.

FG: Depois deste tempo todo, acha que foi alvo de uma injustiça?
AA: As pessoas que estão envolvidas no meio e que sabem como as coisas funcionam, é que podem fazer um juízo maior. Deixo-as fazerem esse tipo de análise e esse tipo de comentários. Aliás muitos já o fizeram e os comentários que se fazem a esse respeito, são mais importantes do que, o que eu possa dizer. Mais uma vez repito - para mim isso não teve importância nenhuma, não teve significado nenhum.

FG: O Adil já está em Portugal há vários anos, criando já certamente algumas raízes. O seu futuro passa pelo futsal português ou tem outros planos?
AA: O meu futuro passa por projectos que tenham sustentabilidade, onde acreditem no trabalho que eu faço. Nós como trabalhamos de uma forma profissional, analisamos essas coisas todas, então, o meu futuro passa, primeiro, pelo clube que represento, onde tenho um contracto para cumprir. Depois, ver se eles pretendem que eu continue com o trabalho aqui, se é do interesse do clube que continue. A partir desse momento, como sempre recebemos todos os anos várias propostas, várias coisas são colocadas em cima da mesa para analisarmos.
Primeiro é preciso sentir-me bem onde me encontro e realizar um trabalho de qualidade, porque a partir do momento que isso não aconteça, é melhor mudar de ares, mas até prova em contrário temos um contrato para cumprir. Depois, logo se vê.

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